Story Musgrave: Por que Outsiders ultrapassam os especialistas?

Objetivo da NASA nos Anos 1970

Nos anos 1970, a Nasa tinha um objetivo ambicioso – criar o melhor telescópio do mundo, capaz de olhar dentro dos recônditos mais escuros e profundos do espaço sideral. O Hubble prometia fornecer respostas às perguntas mais fundamentais sobre nosso mundo e além – a idade e o tamanho do universo, a presença de outros planetas habitados e o nascimento das galáxias -, além de permitir fazer as descobertas inconcebíveis decorrentes de um salto científico enorme como esse.

O Telescópio Hubble e a Missão de Story Musgrave

A excitação aos poucos se dissipou quando uma série de contratempos técnicos e problemas de orçamento atrasaram o lançamento que seria em 1983. Após repensar e retrabalhar o design, os cientistas marcaram a estreia para 1986. Foi quando ocorreu uma tragédia.

Contratempos e Tragédias

Quando eu estava no quarto ano do ensino fundamental, vi a explosão do ônibus espacial Challenger pela televisão. – diz Scott Sonenshein, em seu livro: “O poder do menos“. O acidente liquidou o entusiasmo dos Estados Unidos em relação à exploração espacial, e o Hubble foi colocado em compasso de espera enquanto a Nasa trabalhava para evitar acidentes no futuro. Os engenheiros usaram os quase três anos de atraso para testar e corrigir problemas remanescentes no telescópio – ou, ao menos, foi o que acharam que tinham feito.

Lançamento e Problemas Iniciais

Quando o ônibus espacial Discovery alçou voo levando o telescópio Hubble em 24 de abril de 1990, o mundo esperava respostas a algumas questões profundas sobre o universo. Semanas depois do lançamento a comunidade científica tinha em mãos as primeiras imagens capturadas pelo telescópio, e as notícias não eram muito boas. depois de quase duas décadas de espera, as fotos recebidas eram desfocadas, muito aquém das expectativas do projeto multibilionário.

A investigação que se seguiu descobriu imperfeições no espelho do telescópio. Era um erro muito pequeno – da espessura de um quinze avos de uma folha de papel -, mas as consequências eram significativas. Se nada fosse feito, as imagens do Hubble ficariam distorcidas para sempre, e as respostas às questões astronômicas mais urgentes precisariam esperar décadas por um novo equipamento.

A Missão de Story Musgrave

Todas as esperanças logo cairiam sobre os ombros de um sujeito que abandonara o ensino médio chamado Story Musgrave. Nascido em 1935 é criado em uma fazenda de laticínios em Stockbridge, Massachusetts, ele sempre tivera um pendor para a aventura. Aos 3 anos percorria as florestas próximas sozinho; anos depois, navegara pelos rios em jangadas feitas a mão. Na adolescência, sofreu com o divórcio e o alcoolismo dos pais. Quando foi mandado para um internato para fazer o ensino médio, odiou tanto o lugar que arrumava encrenca o tempo todo. Sem encontrar apoio ou inspiração nos professores, foi embora sem se formar.

Regra Multi-C

Story Musgrave foi trabalhar como mecânico dos equipamentos pesados que operavam na construção do Rodoanel de Massachusetts. Ele tinha um jeito inato para consertos, mas quanto esse serviço acabou, se viu sem diploma nem perspectiva.

Buscando uma saída, alistou-se na Marinha como eletricista de aviação e técnico de instrumentos, aplicando aos aviões as habilidades que desenvolvera consertando equipamentos de construção de estradas. O jovem de 18 anos adorava aviação e o trabalho o mantinha perto das aeronaves, mas percebeu que, sem diploma do ensino médio, jamais voaria pelas Forças Armadas. 

Para conseguir chegar até o CockPit, Musgrave decidiu entrar na faculdade, mas foi rejeitado por ter abandonado o ensino médio. Visitou o reitor da Syracuse University e o persuadiu a deixá-lo assistir informalmente às aulas. Tempos depois, a faculdade reverteu a decisão a respeito de sua admissão e ele se formou em matemática e estatística.

Formação multipotencial e o caminho para o Cockpit

Story Musgrave não se contentou com essa primeira experiência na educação superior. Quando concluiu o último de quase 160 cursos universitários, tinha um MBA da University of California – Los Angeles, um diploma de química do Marietta College, um diploma de médico na Columbia University e mestrado em psicologia e biofísica pela University of KenTucky, além de graduação em literatura na University of Houston. Nesse meio tempo, também obteve a licença de piloto e voltou às forças armadas para voar.

Ele já percorrera várias carreiras diferentes – matemático em empresas, programador, pesquisador da área de neurologia e piloto – quando deparou com o anúncio da Nasa, que buscava cientistas que quisessem viajar pelo espaço. Achou que seria um “trabalho que me desafiaria a alavancar, sem exceção, todas as habilidades que adquiri”. E assim ele começou uma carreira de mais de 30 anos na Nasa, enquanto continuava trabalhando como cirurgião três vezes por mês.

A capacidade de consertar tudo

– de um corte no braço a um vazamento em um avião – o prepararia para sua operação mais importante. Nomeado especialista-chefe e mecânico principal da missão para consertar o telescópio Hubble, reconheceu que ele era tanto uma escolha incomum quanto uma opção óbvia: “Não sou um dos astrofísicos, astrônomos, físicos ópticos, engenheiros ou outros que desempenharam um papel tão essencial e desafiador nesse processo”.

Em vez de uma profunda expertise em uma área específica, Story Musgrave tinha acumulado décadas de experiências ecléticas que o prepararam muito para esse importante papel. “É um exemplo de criatividade espetacular que resulta de dissecar os detalhes de múltiplos domínios e disciplinas e aplicar a descoberta das melhores práticas”, 

Musgrave declarou.

A missão durou 11 dias e foi um dos empreendimentos mais complicados da Nasa, envolvendo um recorde de cinco viagens sucessivas de membros da equipe, que se revezava,; E, suas três idas ao espaço, Musgrave passou 22 horas consertando as imperfeições do Hubble com a habilidade de um cirurgião experiente tentando ressuscitar um paciente em estado crítico. Quando lhe perguntaram por que parou de trabalhar em tempo integral como cirurgião, ele respondeu:

“Para operar o Hubble, é claro”.

Habilidade de resolver problemas complexos

A capacidade de Musgrave para resolver desafios complexos com base em seu background variado exemplifica a regra Multi-C: uma variedade de experiências permite às pessoas pensar de modo mais amplo sobre seus recursos, levando a maneiras divergentes de abordar problemas. Musgrave viu sua missão como uma cirurgia que lhe permitia usar sua experiência como médico para consertar o telescópio.

Outras personalidades Polivalentes

Espécie incomum na atualidade, pessoas polivalentes como Musgrave foram valorizadas pela sociedade na história recente. Lembremos por exemplo, de Leonardo da Vinci (pintor, arquiteto, músico, matemático, engenheiro, inventor e anatomista), Benjamin Franklin (autor, impressor, teórico político, diretor dos correios, cientista e diplomata), Mary Somerville (astrônoma, matemática e geóloga) e Paul Robeson (cantor, jogador de futebol, advogado, ativista social e fluente em 20 línguas). Hoje, a pressão pela aquisição de conhecimento profundamente especializado resulta em pessoas que dominam áreas cada vez mais específicas.

A ironia é que o crédito pelo afastamento da regra do multi-c se deve a um de seus seguidores mais importantes – Adam Smith.

Continua no próximo episódio – confira: Adam Smith – A divisão do trabalho e a mão invisível do mercado. (Próxima terça- 14/07/2024)

Próximo Episódio

Tema: Adam Smith – A divisão do trabalho e a mão invisível do mercado
Data: 14/07/2024 as 14 horas.

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